Por: Olivier Thibault | AFP
O desenvolvimento de uma vacina será um ponto de virada decisivo na luta contra o coronavírus, que já matou mais de 190.000 pessoas em todo o mundo, como demonstrado pela iniciativa “histórica” da ONU anunciada nesta sexta-feira, 24.
O diretor da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, explicou que é uma colaboração que reúne vários países como França e Alemanha e que busca acelerar a produção de vacinas e tratamentos e, ao mesmo tempo, garantir acesso equitativo a eles.
Somente com campanhas de vacinação em massa será possível efetivamente conter a pandemia de Covid-19, concordam epidemiologistas, virologistas e especialistas em saúde pública.
“O desenvolvimento e a distribuição de uma vacina segura e eficaz serão necessários para interromper totalmente a transmissão”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus recentemente.
As medidas de confinamento e distância social são caras e difíceis de manter por um longo período de tempo e, portanto, não são viáveis a médio e longo prazo.
Por enquanto, nenhum tratamento é eficaz para curar pacientes graves de Covid-19, que podem sofrer pneumonia ou acelerações fatais do sistema imunológico.
Uma vacinação em massa permitiria imunizar uma alta porcentagem da população, impedindo a circulação do vírus SARS-CoV-2 e interrompendo a epidemia.
Foi o caso da varíola, outra doença viral sem tratamento efetivo, controlada desde a década de 1980 graças às vacinas.
A pesquisa, em efervescência
Em meados de janeiro, foi obtida a sequência completa do novo coronavírus e, paralelamente à sua disseminação mundial, laboratórios de pesquisa em todo o planeta se lançaram em busca de uma vacina.
Além da iniciativa anunciada nesta sexta-feira pela ONU, mais de cem projetos estão atualmente em desenvolvimento por gigantes farmacêuticos e uma infinidade de laboratórios de biotecnologia, segundo François Balloux, pesquisador da University College London.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) indicou que está em contato com os responsáveis por uma “dúzia” de projetos de vacinas.
A China realiza vários testes clínicos e o prestigioso Instituto Pasteur, na França, também gerencia três projetos.
Os gigantes farmacêuticos Sanofi (França) e GSK (Reino Unido) esperam propor uma vacina em conjunto até o ano que vem.
Seu concorrente americano Johnson & Johnson está comprometido com o desenvolvimento deles no início de 2021.
Quais são os obstáculos?
A primeira dificuldade é o próprio vírus. “Até agora, uma vacina eficaz contra um coronavírus humano nunca foi desenvolvida”, diz Christian Bréchot, ex-diretor do Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica.
“Os cemitérios estão cheios de candidatos a vacinas que nunca funcionaram”, diz o diário britânico Guardian Jonathan Heeney, pesquisador canadense que chefia a empresa de biotecnologia DIOSynVax, na corrida para encontrar um antígeno.
“Estou bastante otimista, pelo que sei da ciência, mas não temos certeza”, disse Seth Berkley, chefe da Global Vaccine Alliance (GAVI), nesta sexta-feira sobre a possibilidade de desenvolver um antígeno.
Esse vírus também apresenta outra dificuldade, que é a reação exagerada da resposta imune que provoca em pacientes em estado grave.
Essas são “tempestades de citocinas”, ou seja, uma produção muito abundante dessas substâncias inflamatórias que podem levar à morte. Como estimular a reação antiviral com uma vacina sem levar a essa perigosa aceleração do mecanismo imunológico?
“Ainda não compreendemos completamente o papel dos anticorpos nesse fenômeno”, admite Frédéric Tangy, especialista em vacinas do Instituto Pasteur. “Em algumas condições, os anticorpos podem agravar a doença”, diz à AFP.
Esse foi o caso de várias vacinas da Sanofi contra a dengue e o sarampo na década de 1960. Além disso, os coronavírus são vírus de RNA que têm a característica de “sofrer muita mutação”, segundo Tangy.
Por esse motivo, o Instituto Pasteur também está trabalhando em uma “vacina universal contra o coronavírus” que atua sobre as proteínas comuns dessa família de vírus, explica.
Para 2020 ou 2021?
“Há muitas chances de que funcione. O sucesso no outono (do hemisfério norte, primavera no Brasil) é possível se tudo correr perfeitamente”, disse ao jornal The Times a especialista britânica Sarah Gilbert, professora da Universidade de Oxford e chefe da empresa Vacccitech que está realizando testes clínicos.
O lançamento de uma vacina nesse período seria duplamente importante, antes de uma possível nova onda de Covid-19 durante o inverno no hemisfério norte.
No Instituto Pasteur, onde os testes começarão em julho, Tangy estima que uma vacina possa chegar “antes do final do outono ou do início do inverno”.
A EMA é cautelosa e indica que o horário é “difícil de prever”.
“Com base na experiência passada, pode levar pelo menos um ano até que uma vacina esteja pronta para ser aprovada e disponível em quantidades suficientes para permitir o uso generalizado”.