A aprovação do governador Rui Costa (PT) e do prefeito ACM Neto (DEM) na condução da pandemia do novo coronavírus é 28 e 40 pontos maior, respectivamente, do que a do presidente Jair Bolsonaro na Bahia. Para 61% dos baianos, a atuação do petista é ótima ou boa, enquanto 73% dos soteropolitanos acham o mesmo da forma como o prefeito da capital tem liderado a operação de combate à doença. Por outro lado, 33% da população do estado acredita que Bolsonaro tem sido ótimo ou bom durante a emergência sanitária.
Os dados são da primeira – do total de seis rodadas – pesquisa A TARDE-DataPoder360, fruto de parceria entre o grupo e o jornal digital Poder360. O levantamento foi realizado pelo DataPoder360, divisão de estudos do Poder360, com patrocínio da Associação Comercial da Bahia (ACB). Na Bahia duas pesquisas foram realizadas pela equipe do instituto. Uma delas ouviu 2500 pessoas por telefone, em 201 municípios, entre os dias 13 e 15 de abril. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%. A outra, aplicada apenas em Salvador, entrevistou 800 pessoas por telefone no mesmo período. Este levantamento tem margem de erro de 3,5 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.
Bolsonaro é o pior avaliado pela população baiana entre as figuras políticas testadas na pesquisa. Para 32% dos baianos, a condução do presidente na emergência sanitária é ruim ou péssima; 27% acham que é regular. Na contramão, Rui Costa enfrenta pouca rejeição do público em relação às medidas adotadas pelo governo estadual: 7% acham que a atuação dele é ruim ou péssima, enquanto 27% o avaliam como regular.
Os números indicam que a população apoia a condução do governador na crise, marcada pela política de isolamento social para todos os setores, enquanto o presidente insiste no isolamento apenas para grupos de risco, como forma de não prejudicar a economia.
A reprovação a Bolsonaro é maior entre mulheres (36%), idosos (50%), grupo mais suscetível a quadros graves de Covid-19, pessoas com curso superior (55%) e quem tem renda entre 5 e 10 salários mínimos (69%). Pessoas que recebem mais de 10 salários mínimos discordam de sua atuação (40% de ruim ou péssimo). Por outro lado, teve os melhores desempenhos entre os mais pobres (desempregados ou sem renda fixa e aqueles com até dois salários mínimos) e pessoas sem escolaridade (65% de ótimo e bom).
Já o governador encontra maior porcentagem de ótimo e bom entre os que possuem de 45 a 59 anos (65%), pessoas com renda entre 5 e 10 salários mínimos (85%) e aqueles que não frequentaram a escola (83%). No quesito ruim e péssimo, o petista oscilou entre 3 e 9% nos outros estratos.
Salvador
Na capital baiana, o destaque fica para a aprovação maciça das ações de Rui e ACM Neto. Além dos 73% de ótimo ou bom, o prefeito tem rejeição quase nula, com apenas 3% de ruim ou péssimo. Vinte e dois por cento consideram sua atuação regular.
Em Salvador, cresce o apoio ao governador da Bahia. Enquanto no resto do estado seu desempenho é bem avaliado por 61% da população, na capital, o percentual chega a 71%. Ruim e péssimo somam 5%; regular, 23%.
As avaliações de Neto e Rui são próximas aos resultados de pesquisas anteriores à pandemia, o que indica que a aprovação popular à condução dos dois durante a emergência sanitária ajudou a manter a popularidade e boa avaliação de seus governos.
Quando olhados os estratos sociais, percebe-se que o prefeito tem as melhores avaliações entre o público feminino (77%), idosos (81%), pessoas com nível superior (78%) e quem recebe de 5 a 10 salários mínimos (92%). Neto também é um dos defensores da política de isolamento social irrestrito. Ele engrossa o coro de prefeitos e governadores que têm adotado medidas contrárias às defendidas por Bolsonaro.
Para o cientista político e coordenador do DataPoder 360, Rodolfo Costa Pinto, chama a atenção o fato de Neto e Rui estarem mais bem avaliados do que a média do país entre prefeitos e governadores. “Tem mais a ver com o trabalho que está sendo feito”, avaliou.
Ainda segundo ele, o bom desempenho do governador na capital baiana – próximo ao de Neto e com empate técnico dentro da margem de erro – é algo que “pressiona” o prefeito do ponto de vista eleitoral. Vale lembrar que os dois, adversários políticos, são considerados como os principais cabos eleitorais do pleito em Salvador neste ano. Por um lado, Neto tenta emplacar o vice-prefeito Bruno Reis (DEM) como sucessor. Do outro, Rui aposta na Major Denice como candidata pelo PT.
“Sei que Rui Costa é bem avaliado há bastante tempo na Bahia, mas certamente está se beneficiando. Para ele, é muito bom do ponto de vista de imagem. Rui aparece muito bem na capital e ACM Neto segue muito bem”, afirmou.
Metodologia
A pesquisa do DataPoder360 foi realizada por meio da metodologia IVR, Interactive Voice Response, ou URA (Unidade de Resposta Audível), em português. Todas as respostas foram coletadas via ligações para telefones fixos e celulares. Os números discados foram selecionados de maneira aleatória a partir de uma base de dados própria. Apenas as entrevistas em que as pessoas responderam todas as perguntas foram consideradas.
Na Bahia foram feitas 2.500 entrevistas com pessoas em 201 municípios do Estado. A taxa de resposta foi de 6,1%. Isso quer dizer que para chegar ao número de 2.500 entrevistas completas foram realizadas cerca de 41.000 ligações. As entrevistas são automatizadas e as pessoas respondem por meio do teclado do celular ou telefone fixo.
Atuação deve trazer dividendos eleitorais
Em ano de eleição municipal, a boa avaliação da liderança no trabalho de combate a uma pandemia que obrigou o mundo inteiro a repensar suas formas de vida em sociedade pode trazer bons dividendos para ACM Neto e Rui Costa. Em Salvador, os dois disputam qual dos seus indicados vai vencer o pleito marcado para outubro deste ano.
Na análise da professora de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Carla Galvão, a atuação do prefeito pavimenta ainda mais o caminho para que ele eleja o vice-prefeito Bruno Reis como sucessor. A cientista política pontua que Neto tem tido ações consideradas pioneiras no combate ao vírus, como a criação de auxílio de R$ 270 para pessoas de baixa renda e blitze de testagem rápida contra a Covid-19, atuação que pode ser capitaneada positivamente na campanha política.
“O impacto das políticas municipais é bem mais próximo, as pessoas vão ter maior lembrança disso. Ele tem grande aprovação histórica, é uma liderança política, tem um partido forte, construiu, ao longo da gestão, o nome de um sucessor”, afirma.
Para o cientista político e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Cláudio André, este cenário de alta aprovação popular Rui e Neto vai influenciar a “despolarização” das próximas eleições. “Dificilmente, os pré-candidatos assumirão uma postura radical contra eles enquanto adversários”, diz.
Em relação a Bolsonaro, o professor acredita que não haverá grandes mudanças na correlação de forças do próximo pleito. “Não há um ou mais grupos político-partidários relevantes, buscando nacionalizar o debate eleitoral”, avalia.