Bienal do Livro: lugar de afetos, encontros e narrativas memoráveis

OPINIÃO

Iumara Rodrigues*

Conto os dias para eventos literários, mas na Bienal a catarse é maior. Não desqualificando os outros eventos do segmento. A emoção é tanta que costumo adoecer levemente nos dias. Não tinha como ser diferente. Amante dos livros, cursei Letras e Comunicação. Marquei na pele o trecho de umas das obras da escritora mineira Carla Madeira (‘A natureza da mordida’, ‘Véspera’, ‘Tudo é rio’) e um livro. Ela esteve na última edição da BLB, em 2022. Muito requisitada pelos leitores – como era esperado – mal vi o fio de cabelo dela. Espero que ela volte em breve para mostrar minha tattoo. Uma das disciplinas que leciono é Literatura. Minha atividade laboral, há mais de 20 anos, é norteada por palavras. Para completar, na Bienal deste ano, várias memórias me foram reativadas. Todas as edições são especiais, mas essa afetou diretamente minha memorabilia. A começar pelo tema, ‘As histórias que a Bahia conta’, com a presença de, pelo menos, um/uma participante da terra.

No primeiro dia, ouvir Itamar Vieira Júnior (‘Torto Arado’, ‘Doramar ou a Odisseia’, ‘Salvar o fogo’) contar que leu ‘O caso da borboleta Atíria’, de Lúcia Machado de Almeida, me levou para um tempo em que eu devorava todos os títulos – os indicados pela escola e os não indicados também –  da Coleção Vaga-Lume, inclusive esse.

Encontrar alunos e ex-alunos é outro afeto retomado nesse espaço. “Professora, uma foto”, pedem dois alunos de Comunicação.  Eu, perdida entre milhares de exemplares, na disneylândia dos livros, respondo: “gente, foto depois, vão olhar livros que vocês ganham mais”. Eles riem.

Contemplar a serenidade com que Jeferson Tenório (‘O avesso da pele’, ‘Estela sem Deus’) fala sobre violência policial contra pessoas negras é sempre tocante.  Li ‘O avesso da pele’ no Kindle recentemente e fiquei bastante impactada e sem entender como essa narrativa pode ser censurada. Tenho ‘Estela sem Deus’, livro físico, autografado por ele na última Flipelô, mas ainda não li.

Outra memória fortíssima despertada pela BLB foi rever Denise Carrascosa, colega no Colégio Nossa Senhora das Mercês. Sempre inteligente, era notório que se destacaria em qualquer área. Doutora em Literatura, Carrascosa desenvolve um trabalho unindo mulheres e escrita no sistema prisional. Ao vê-la, voltei à adolescência. Registrei um trecho da fala dela e enviei para outra colega nossa, Rosângela, que hoje vive no exterior. Ficamos emocionadas. Uma lembrança puxa outra. Todas de milhões.

Reencontrei também o escritor Anderson Shon (‘Estados Unidos da África’, ‘Quando as borboletas saem do casulo’, ‘Não termine comigo, Joana’). Participamos de uma seleção para roteirista no passado. Acredito que ele não lembre. Na correria da cobertura, não consegui falar com ele.

Vi o querido Marielson Carvalho. Doutor em Literatura e escritor, Marielson mediou o painel ‘Acontece que eu sou baiano’, que versou sobre a amizade entre Jorge Amado e Dorival Caymmi, contada por Paloma Amado, filha de Jorge, e Alice Caymmi, neta de Dorival.

E que satisfação comprar os produtos literários da Tertúlia… Bolsas, marcadores, canecas, camisetas, sombrinhas e vários outros mimos com estampas e trechos da melhor literatura nacional e estrangeira. Até quem não aprecia ler se encanta. Minha primeira bolsa de lá, com estampa e texto de Clarice Lispector, adquiri na Bienal de 2013, ainda no Centro de Convenções antigo. Segue quase intacta. Material de alta qualidade, atendimento cordial, embalagem original. Ululante que comprei uns itens para mim e para presente.

Como o tempo galopa, daqui a pouco teremos mais uma edição da Bienal do Livro Bahia. Sigo aguardando mais essas duas voltas da Terra em torno do Sol para mais emoções nos corredores do Centro de Convenções Salvador. Que venha 2026!

*Comunicóloga, docente, redatora, revisora, roteirista.

 

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