Nunca houve (e não importa mais se haverá) um brasileiro tão conhecido no mundo quanto o Rei Pelé. Maior de todos no futebol, atleta do Século XX em todos os esportes, a majestade entregou sua coroa nesta quinta-feira (29), aos 82 anos.
Edson Arantes do Nascimento nasceu em Três Corações, Minas Gerais, em 1940. Em sua mitologia pessoal, reza a lenda que prometeu ao pai que seria campeão do mundo, ao ver seu Dondinho choramingando próximo ao rádio, na traumática derrota da Seleção Brasileira na Copa de 1950, ante aos uruguaios, no Maracanã.
Oito anos depois, aos 17, estaria em gramados suecos envergando a camisa 10 na conquista do primeiro título mundial do Brasil. Sensação do Mundial de 58, Pelé marcou seis gols (sendo dois deles na final — um dos quais uma pintura imensurável) e foi condecorado com Rei do futebol. Seu cartão de visitas se tornaria uma folha corrida, acumulando recordes e grandes feitos no esporte mais popular do planeta.
Em 1962, tornaria-se bi-mundial com a Seleção Brasileira, na Copa do Chile (atuou apenas dois jogos por ter sofrido uma contusão). Pelo Santos, empilhou seis Taças Brasil (embora tenha perdido a primeira para o Bahia, em 1959), além de 10 campeonatos paulistas, três Rio-São Paulo, duas Copa Libertadores e dois Mundiais de clube. Foi pelo time da Vila que alcançou a inédita marca de mil gols marcados, em cobrança de pênalti em 1969, no Maracanã.
No ano seguinte, seria a estrela máxima de um escrete encantado na conquista do Tricampeonato mundial pela Seleção Brasileira, no México. Era a posse defintiva da Taça Jules Rimet e a coroação definitiva do monarca do futebol. Marcou quatro gols, deu passes e transformou até oportunidades perdidas em lances inesquecíveis, vide o drible de corpo contra o goleiro uruguaio Mazurkiewicz, a cabeça que o inglês Gordon Bancks defendeu na risca da trave e o chute do círculo central, contra a Tchecoslováquia.
Pressionado pela Ditadura Militar para jogar a Copa de 1974, na Alemanha, Pelé negou a súplica. Sempre teve a premissa de sair por cima. Deixou o Santos naquele mesmo ano e só retornou ao futebol um ano depois, para liderar um projeto no New York Cosmos, nos Estados Unidos.
Para além do futebol, irradiou sua imagem pela literatura, quadrinhos, cinema, música e propagandas publicitárias. Na política, foi ministro do esporte de 1995 a 1998, na gestão de Fernando Henrique Cardoso — foi responsável pela lei Lei 9.615 (que ficou conhecida como “Lei Pelé”), criando mecanismos para os jogadores se desvincularem dos contratos draconianos com os clubes de futebol.
Casou-se três vezes e teve sete filhos (dois em relacionamentos extraconjugais, aos quais não reconheceu a paternidade). Na Justiça, as duas filhas conseguiram provar que eram herdeiras do Rei. Foi extremamente criticado na opinião pública por não ter feito questão de conhecê-las, mesmo após comprovação do teste de DNA.
Pelé ajudou a forjar a imagem do Brasil no Século XX, projetando para os 20 séculos futuros. Negro, topete, sorriso largo e uma habilidade sobrenatural de conduzir uma bola o fizeram a máxima expressão do próprio país e da sua nacionalidade. Ele mudou tudo o que viria depois.
Nunca houve (e não importa mais se haverá) um Brasil tão conhecido no mundo quanto o Rei Pelé (1940-2022). Definitivamente, saiu por cima.