A mãe de duas gêmeas baianas diz que as meninas, de três anos, foram vítimas de racismo supostamente cometido por um segurança da estação Rodoviária de Metrô, em Salvador. O caso teria ocorrido por volta das 18h30 do sábado (25/1). As crianças terão o nome preservado.
Sandra Weydee contou ao Aratu On que tudo aconteceu quando as três se aproximaram da catraca, onde estavam três seguranças. Dois deles questionaram a idade das crianças. Quando a mãe respondeu, o grupo alertou que menores não pagavam. Assim, mulher respondeu que estava registrando apenas passagem dela. Neste momento, o terceiro funcionário, que estava de costas, se virou dizendo: “misericórdia! Bucha 1 e Bucha 2!”
“Eu saí dali como se estivesse anestesiada, flutuando. Não tive reação”, relatou. Uma das pequenas perguntou para Sandra, aos prantos, o que significa “bucha”. “Ela questionou: ‘eu não sou isso não. Eu não sou bucha. Porque ele disse isso mamãe?'”, lembrou. A irmã, considerada pela mãe um pouco mais esperta, tentou explicar que a ofensa foi proferida pelo funcionário por conta do cabelo “black power” delas.
A mãe confessou ao Aratu On que se sente culpada por não ter rebatido e defendido as meninas naquela situação. “Eu estou acostumada a passar por esse tipo de situação. Porém nunca ‘liguei’. Mas quando acontece com um filho a situação é diferente. Eu enfrentei uma gestação complicada, elas nasceram de sete meses por causa da minha pressão que estava alta na época. Foi uma luta muito grande! Além disso, eu crio elas sozinha, estou separada há cinco meses e elas são a motivação da minha luta diária. Por isso, vou atrás dos meus direitos”, exclamou.
Weydee relatou ainda que retornou ao local onde tudo ocorreu, porém o agressor não se encontrava mais lá. O colega dele, que presenciou a cena, teria alegado que se sentia “envergonhado” pela atitude e disse que tudo não se passou de uma brincadeira. “Isso não é brincadeira que se faça com criança. Eu não conheço ele isso não se faz”, sustentou. O segurança resolveu chamar o coordenador, que teria se mostrado “surpreso” perante Sandra e lamentou o ocorrido. O homem teria alegado que a empresa repudia qualquer tipo de racismo especialmente quando se trata de crianças.
Sandra informou ao Aratu On que, até a manhã desta segunda-feira (27/1), as gêmeas comentam o caso. Segundo ela, as filhas não querem mais usar o cabelo black power por conta do ocorrido. “Estamos acostumadas a chamar atenção por onde elas passam de forma positiva. Porque as pessoas acham elas lindas por terem o cabelo cheio e original, assim como por causa do jeito delas, que são comunicativas e alegres. Do nada, vem uma pessoa dessas e desconstrói toda a criação e educação que você passa para as crianças. Lamentável”.
Sandra deve prestar queixa na Delegacia Especializadas de Repressão a Crime Contra Criança e Adolescente (Derca) na próxima quarta-feira (29/1), já que os agentes da unidade estão paralisados por conta de um protesto contra o Governo da Bahia.
A empresa CCR, responsável pela administração do metrô de Salvador, prometeu apurar o caso. O grupo disse que “repudia atitudes racistas ou discriminatórias e está apurando o caso citado pela cliente”. A concessionária ressaltou ainda que “respeita e valoriza a pluralidade da Bahia e reforça o seu compromisso com a promoção da igualdade étnico-racial e de gênero”.
*Sob supervisão do editor, Jean Mendes