Povo de Pojuca x o padre: líder religioso é exposto após chamar Lula de “satanás” e idolatrar Bolsonaro

MUNDO

Padre Cláudio, que atua em Pojuca, na Região Metropolitana de Salvador, está sendo acusado por moradores da cidade de tentar influenciar fiéis a votarem no candidato à reeleição para a presidência, Jair Bolsonaro (PL), no segundo turno das eleições.

Em um áudio gravado pelo religioso e enviado por moradores de Pojuca para a reportagem do Aratu On nesta quarta-feira (26/10), o sacerdote chama o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de “satanás” e “demônio”.

“Dos jovens que eu tive influência, nenhum é maconheiro, nenhum é vagabundo, todos são pais de família, voltados para o compromisso com a fé. Não são aqueles que eram doutrinados para ser ativistas políticos. Nós temos jovens bons, inclusive filhos de quem coloca a estrela do comunismo no peito. Nós temos jovens que nós influenciamos”.

O áudio, que tem quase 4 minutos de duração, não para por aí. Na gravação, Padre Cláudio, que está na comunidade há 22 anos, também chama os eleitores de Lula de “covardes”, e se refere ao partido como “grupo comunista”.

“Acho que está chegando o meu tempo de ir embora daqui. E depois ver, se por acaso esse satanás ganhar… se esse satanás ganhar com o voto daqueles que se dizem cristãos, eu vou poder reclamar, poder ver (…). Quero viver um pouco mais para ver alguns se lamentarem daqui há cinco anos se esse demônio entrar aí”.

Nas redes sociais, os moradores de Pojuca expuseram o fato e se manifestaram contra a fala do sacerdote. Em uma das mensagens encaminhadas para o Aratu On, moradores se dizem “enojados”, e expõem que o padre tem mantem uma postura religiosa “duvidosa”.

“Um homem que se diz padre, e de conduta totalmente duvidosa, com comportamento extremamente equivocado em sua vida pública. Como não é novidade para ninguém, um Padre etilista, que segue sua vida ingerindo em tempo integral bebida alcoólica. Quem não acreditar, é só ficar observando as entregas da distribuidora na casa dele. Um homem que expressa palavrões, ofende, destrata, menospreza, não respeita a opinião dos fiéis e nem outras religiões e, além de tudo, ainda oprime e assedia moralmente seus funcionários e fiéis mais próximos, para que todos façam a sua vontade de votar em Bolsonaro”.

Em uma das mensagens, moradores da região apelidam Padre Cláudio de “Padre Fake News” e “Padre Fanfarrão”, e pedem que a Igreja Católica mande outro sacerdote para a cidade. “Ele deveria defender e falar do Evangelho de Jesus com a mesma intensidade com que ele grita, se expõe e idolatra esse candidato à Presidência”, diz o texto.

Em grupos de WhatsApp, moradores de Pojuca chegaram a comparar Padre Cláudio com Padre Kelmon (PTB), candidato à Presidência derrotado no primeiro turno dessas eleições.

Padre Kelmon chamou a atenção da população nos debates presidenciais deste ano, especialmente após a Igreja Católica afirmar que o baiano não é sacerdote de verdade. Por causa disso, durante um debate, a candidata Soraya Thronicke (União) chegou a chamar Padre Kelmon de “Padre de festa junina”.

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Em outro áudio gravado pelo sacerdorte católico, esse com cerca de três minutos, o líder religoso afirma que a população nordestina é ofendida por pessoas de outras regiões do Brasil por causa dos votos no PT: “A realidade esquerdista aqui no Nordeste leva a gente ser considerado ignorante, analfabeto”.

Além disso, o padre acusa a esquerda brasileira de “invadir igrejas” e afirma, em tom de crítica, que Lula “anda nos candomblés da vida, umbanda”. No fim, Padre Cláudio sugere que Lula tenha pacto com o diabo: “Vocês viram o satanista dizendo quem é que está defendendo o caminho desse homem”.

No início de outubro, o Superior Tribunal Eleitoral (TSE) determinou que as redes sociais removessem quaisquer publicações que associassem o Lula ao satanismo, sob pena de multa diária no valor de R$ 50 mil.

Ao Aratu On, o professor de educação física, ativista no município, Mário Alberto de Araújo, mais conhecido como Betão Araújo, disse que, desde o início do período eleitoral, o padre vem usando as missas para fazer campanhas a favor da reeleição do atual presidente:

“O problema é que a maioria das pessoas não vota com ele, aí ele surtou. Ele fala disso nas missas, é exposto mesmo, nada escondido. O carro dele é todo plotado. Ele fala de política na hora do sermão, é uma prática corriqueira dele. Ele usa as redes sociais para declarar apoio, coloca vídeos, fake news”.

Em uma rede social, Mário Alberto falou, sem citar nomes, sobre o caso de intolerância religiosa: “Faça a p*rra do seu áudio, mas analise o que você está falando. Intolerância Religiosa é crime. Respeite as Religiões de Matriz Africana, não coloque a religião dos outros no meio da sua política”.

OSTENTAÇÃO

Em outro texto escrito por moradores, Padre Cláudio é acusado de usar a casa paroquial para realizar festas “regadas a bebida”, e de leiloar objetos e móveis da igreja para benefício próprio. Além disso, é dito que o sacerdote se envolve diretamente com política e já fez comícios para a ex-prefeita Maria Luiza Laudano (PSL) na igreja, além de agredir fisicamente desafetos políticos.

“Suas missas se tornavam um palanque eleitoral. Até roubo de R$ 50 mil já aconteceu dentro da casa paroquial, e até hoje ninguém descobriu quem foi. O padre passa a ser uma peça fundamental para a política da cidade, onde o mesmo negocia seu poder de líder religioso com os políticos. Dentro do seu carrão, o padre mostra sua verdadeira indiferença com os mais necessitados da sua própria igreja”.

Um dos textos escritos pelos moradodres ainda diz que o padre “ostenta às custas da paróquia”: “É asqueroso ver um lider religioso associar-se à violência, fake news, intolerância religiosa, desrespeito à democracia”.

A reportagem do Aratu On entrou em contato com Padre Cláudio, que disse que não iria se manifestar sobre nenhuma das acusações, e declarou: “As pessoas são livres para pensar o quiserem”.

Em nota, a Diocese de Alagoinhas, por meio do monsenhor Francisco de Oliveira Vidal, ponderou que “pastores, padres e bispos” devem atuar como “elo”, e não “instrumento de dispersão”.

A Diocese também falou sobre a polarização que o país está vivendo, e disse que até a cor das vestes dos sacerdotes, especialmente o vermelho, virou alvo: “Chegamos a tal ponto que a cor da veste cardinalícia, que nos lembra o sangue de Cristo e dos Mártires, é associada às ideologias”.

A Diocese, porém, não informou se tomará alguma medida em relação às falas do padre.

VEJA A NOTA NA ÍNTEGRA:

Caríssimos presbíteros da Diocese de Alagoinhas, boa tarde.

Hoje, pela manhã, fui tomado de surpresa pela imprensa de Alagoinhas e de Salvador, devido manifestações de teor político de um sacerdote de nossa amada Diocese. A imprensa solicitava-me uma posição acerca de tais manifestações, enquanto Bispo Eleito. Não o fiz, transmitindo ao Administrador Diocesano tal missão.

Mesmo não tendo tomado posse canônica, trago em minhas mãos o decreto de nomeação expedido pela Nunciatura Apostólica. Por isso, um pedido de pastor: 

O Brasil tornou-se uma sociedade altamente polarizada. O santo povo de Deus – em especial os mais pobres – é o mais violentado, neste contexto. Chegamos a tal ponto que a cor da veste cardinalícia, que nos lembra o sangue de Cristo e dos Mártires, é associada às ideologias. 

Como pastores, padres e bispos somos chamados a ser elo para a unidade e não instrumento de dispersão. 

Solicito aos irmãos padres que a liberdade de consciência e a inviolabilidade do voto secreto sejam respeitadas. 

Finalizo com o parágrafo 16 da Constituição Pastoral Gaudium et Spes que exalta a dignidade inviolável da consciência, na qual o homem e a mulher a sós se encontram com Deus. Para quem  bebeu na fonte de Santo Afonso

Maria de Ligório, comungar desta inviolabilidade do sacrário da consciência humana é fundamental e salutar.

Este comunicado será publicado por mim no Grupo dos Bispos do Regional Nordeste 3. 

Despeço-me conclamando a comunhão em Cristo. 

Atenciosamente,
Mons. Francisco de Oliveira Vidal
Bispo Eleito da Diocese de Alagoinhas.

adm

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