Uma pesquisa feita com 311 animais domésticos mostrou uma taxa de infecção dos animais pelo SARS-CoV-2 maior do que as relatadas em trabalhos já publicados. O objetivo do estudo é verificar se animais domésticos, como cachorros e gatos, poderiam ser infectados pelo novo coronavírus.
Pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular do Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias, do Laboratório de Imunofarmacologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e médicos veterinários da Clínica Rio Vet participaram da pesquisa. De acordo com a veterinária Luciana Myashiro, da Rio Vet, responsável técnica pelo projeto, o estudo também quer observar as possíveis mutações que são necessárias para a passagem do vírus entre as espécies.
Dos 311 animais usados na pesquisa, 251 eram cães e 60 eram gatos, todos da região de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, Riode Janeiro. Do total, 26 animais (19 cachorros e 6 gatos) estavam infectados pelo vírus da Covid-19 e apresentavam sintomas gripais, mas a maioria estava assintomática.
Os resultados preliminares mostram uma taxa de infecção dos animais pelo vírus maior do que as relatadas em trabalhos já publicados, segundo informou a bióloga virologista Shana Barroso, que também particiou do estudo.
ANTICORPOS
O estudo pretende, ainda, investigar a presença de anticorpos contra o vírus, nesses animais domésticos, e se estes são capazes de neutralizar o vírus. Será feito o sequenciamento do material genético viral encontrado nos animais para avaliar possíveis mutações ou a presença de variantes, e a detecção de anticorpos IgM e IgG, que são reagentes positivo e negativo, respectivamente.
Já os tutores desses animais serão indagados sobre histórico de Covid-19 em pessoas que tenham contato próximo aos pets.
ESTUDO
A região de São João de Meriti foi escolhida para dar partida à pesquisa por ser a terceira cidade com maior densidade populacional do Brasil. “Estima-se que [o município] tenha 85 mil animais. Além disso, estávamos em busca de uma clínica [em] que os profissionais abraçassem a pesquisa e acreditassem na sua importância e que tivesse credibilidade no mercado”, explica Luciana Miashiro.
O teste molecular para detecção do novo vírus é oferecido aos tutores que levam os cães e gatos para consulta ou atualização do calendário de vacinação. Após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido de que a pesquisa foi previamente aprovada pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) do Hospital Naval Marcílio Dias, o material é coletado para análise, majoritariamente via swab retal.
TRANSMISSÃO
Apesar da maior taxa de infecção desses animais, a veterinária destaca, entretanto, que todas as pesquisas publicadas até hoje mostram chances praticamente nulas de transmissão do vírus de animais domésticos para humanos. “Até agora, não temos conhecimento de evidências científicas de que os animais domésticos poderiam se tornar reservatórios do SARS-Cov-2”, explica. Também ainda não há comprovação de que a doença possa causar morte nos animais.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), animais domésticos não transmitem a Covid-19 para seus donos, mas são capazes de transmitir o vírus para outros animais. Estudos da literatura já identificaram o SARS-CoV-2 em tigres e leões de zoológicos, informaram os pesquisadores.