Uma declaração feita pela secretária de Educação da cidade de Conceição de Jacuípe, no Recôncavo Baiano, durante uma reunião escolar, revoltou religiosos de matriz africana. De acordo com o babalorixá Pai Cláudio de Oxalá, a chefe da pasta municipal, Marlene Oliveira, se referiu aos líderes da comunidade como “pais de chiqueiro”.
“O meu filho estava lá, em uma reunião de pais e alunos, na escola municipal Daniel Ribeiro Costa, para alunos com deficiência, e a secretária, sem que ninguém a tivesse provocado, por livre e espontânea vontade, resolveu dizer que ‘esse povo que é pai de santo, na verdade, são todos pais de chiqueiro’. O meu filho pediu para que ela se retratasse, mas ela desdenhou dele e continuou falando”, conta o babalorixá, que atua como liderança do Candomblé há 30 anos na cidade.
Filho do Pai Cláudio, Uelington Alves Silva, 48, acompanha o seu irmão com deficiência física, aluno da instituição de ensino em Conceição de Jacuípe. Junto com o seu pai, é fundador da Associação Cultural e Religiosa do Ilê Asé Omô Arin Massun, no município.
Pai Cláudio lamentou a situação, que caracterizou como “racismo” e “intolerância”. “Para nós, foi muito doloroso. Ueligton ficou arrasado, se sentiu humilhado, desmoralizado, porque o racismo institucional, o preconceito, a intolerância, fere na alma. Somos negros, de matriz africana, não tem como não sentir. Quando ele me trouxe a informação, me passou chorando”, diz.
Os dois ingressaram com um pedido de apuração do caro, ocorrido em 5 de abril, no Ministério Público da Bahia (MP-BA). Em apoio, a Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro Ameríndia (AFA) publicou, na noite desta terça-feira (26), uma nota de repúdio à “postura inadequada, racista e intolerante” da secretária, pedindo a sua saída do quadro de funcionários da prefeitura de Conceição do Jacuípe.
“A expressão ‘pai de chiqueiro’ é intolerante, diz que o terreiro é chiqueiro, que só tem lama e não tem nada que preste, e que os sacerdotes são pais desse chiqueiro. É uma fala terrível. É inadmissível que uma secretária da pasta da Educação, ou qualquer outra que seja, tenha essa postura ao invés de promover a educação no sentido do respeito mútuo, à diversidade, às escolhas individuais e coletivas. Ela presta um desserviço e instala o ódio religioso, que já é histórico para as religiões de matriz africana”, considera o presidente da AFA, Leonel Monteiro.
O Metro1 entrou em contato com a Secretaria de Educação de Conceição de Jacuípe, mas ainda não obteve um retorno.