Fumantes têm 3 a 5 vezes mais chances de ter câncer de bexiga do que aqueles que não fumam. O tabagismo causa mais da metade dos casos da doença entre os homens e mulheres.
Aos 67 anos, Braulio Alves Neto confirma as estatísticas. Por trinta anos foi fumante e o sinal de alerta veio em 2019, mais precisamente o único sintoma do câncer de bexiga foi a presença de sangue na urina. “O único caso de câncer na minha família foi o da avó que morreu com 92 anos em decorrência de um câncer no intestino com metástase óssea. Eu, até os 65 anos, nunca tive problemas médicos de alguma importância, inclusive nem exame de próstata tinha feito ainda”, conta o empresário.
A biópsia confirmou o diagnóstico e após consulta com a equipe da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) Nossa Senhora de Fátima, das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), iniciou sua luta contra o câncer. “Fiz uma série de 15 sessões de quimioterapia e em seguida a minha cirurgia foi realizada com sucesso, inclusive foi a primeira cirurgia para remoção radical da bexiga e próstata com derivação intra corpórea feita por laparoscopia pela equipe de urologia do hospital, uma técnica de alta complexidade realizada em pouquíssimos centros do Brasil. Foram somente seis pequenas incisões, passei um dia na UTI, outros dois na enfermaria e no 4º dia já estava em casa com os amigos e a família”, comemora aliviado.
Segundo o urologista Nilo Jorge Leão, o câncer de bexiga é um dos tumores mais frequentes, sendo o segundo tipo mais comum do trato do urinário e o tabagismo é o fator de risco mais significante. “Em mais de 50% dos casos de câncer de bexiga no sexo masculino e em 35% entre as mulheres são decorrentes do tabagismo. Os tabagistas apresentam uma chance duas a quatro vezes maiores de desenvolver câncer de bexiga, quando comparados aos não-fumantes. Quando o uso de tabaco é interrompido, diminui-se a chance de aparecimento da doença, embora a ação dos fatores cancerígenos presentes possa perdurar no organismo por mais de dez anos. Outros fatores relacionados ao câncer de bexiga são: as radiações ionizantes como os raios-x, infecções urinárias de repetição ou presença de cateteres no trato urinário, uso de algumas substâncias tais como aminas aromáticas, ciclamato, sacarina, corantes, ciclofosfamidas entre outros”.
Desafio do diagnóstico na pandemia
Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) revelam que ao menos 50 mil brasileiros deixaram de receber o diagnóstico de câncer nos dois primeiros meses de pandemia. Ainda segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), houve redução de 70% no número de cirurgias relacionadas a tratamentos oncológicos, além de queda que varia entre 50% e 90%, dependendo do local, de análises de biópsias. Para o câncer de bexiga a queda foi de 26%, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
Referência no tratamento minimamente invasivo do câncer urológico pelo SUS na Bahia, a Unacon das Obras Sociais Irmã Dulce, realiza, em média, 20 cirurgias endoscópicas, abertas ou laparoscópicas por mês para tratamento do câncer de bexiga. Por ano, mais de 200 procedimentos cirúrgicos são realizados na OSID, sendo que desses, em média, 10 pacientes precisam perder toda a bexiga. Nilo Jorge que é coordenador do Núcleo de Uro-Oncologia do Hospital Santo Antônio reforça a importância de os pacientes buscarem assistência médica nos primeiros sinais da doença. “A baixa pela procura dos serviços de saúde pode ser especialmente maléfica para o diagnóstico e tratamento do câncer de bexiga que teve uma queda de 26% no número de diagnósticos durante a pandemia. Embora a doença apresente boas taxas de cura, sua detecção precoce é difícil, uma vez que, em fases iniciais, costuma apresentar sintomas sutis que geralmente são pouco valorizados pelo paciente, como a presença intermitente de sangue na urina. Apesar disso, é uma doença de rápida evolução, em 12 semanas muda de estadiamento podendo evoluir com metástase”, salienta.
O médico afirma ainda que atrasos no diagnóstico e tratamento podem agravar o estadiamento do câncer (classificação que determina a localização e a extensão do tumor) fazendo com que casos potencialmente curáveis evoluam para doenças avançadas ou metastáticas (quando se espalham para outras partes do corpo), diminuindo a chance de cura.
Dados
A previsão é que a prevalência da doença tenha sido de 10.640 brasileiros em 2020, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA). O câncer de bexiga representa mais de 90% de todos os tumores uroteliais e é considerado o décimo tipo de câncer mais comum no mundo, com aproximadamente 550 mil novos casos ao ano.
No Brasil, é classificado como um dos tumores mais comuns do sistema urinário, ocupando sexta posição entre os mais incidentes em pessoas do sexo masculino. Entre os sinais mais comuns estão sangramento intermitente na urina, presente em 90% dos casos. Dor ao urinar e dor pélvica podem ocorrer em casos mais avançados.
Tratamento
Após o diagnóstico e estadiamento da doença, o médico discutirá com o paciente as opções de tratamento. “É importante avaliar os benefícios e riscos de cada opção terapêutica, bem como seus possíveis efeitos colaterais, para ajudar a tomar a decisão que melhor se adapte às necessidades de cada paciente. As principais opções de tratamento para o câncer de bexiga são cirurgia, sendo plataforma robótica o maior avanço dos últimos anos nos tratamentos dos casos chamados “músculo invasivos“, terapia intravesical- uma forma de reduzir a recorrência dos tumores superficiais – quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e terapia alvo. Em muitos casos, podemos utilizar um desses tratamentos ou uma combinação deles”, explica Nilo Jorge.