O cantor Gabriel o Pensador lançou nesta quarta-feira (21) a canção ‘Patriota Comunista’. A nova faixa integra o álbum inédito do artista chamado “Seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo”, que ainda não tem data para lançamento. A canção já chamou atenção antes mesmo de ser divulgada. Isso porque, o cantor sofreu intimidação e tentativas de censura. De acordo com Gabriel, a locação do videoclipe e as imagens gravadas em um cemitério foram questionadas pelas autoridades da cidade de Uberlândia (SP).
Nesta quarta (21), em entrevista em uma coletiva de imprensa, Gabriel respondeu sobre inúmeros temas trazidos pela música. Nela, ele aborda inclusive a Bahia citando Moraes Moreira e os Novos baianos assim como casos de violência emblemáticos, como o crime envolvendo Bruno e Yan Barros, assassinados após furtarem carne no supermercado Atakadão Atakarejo em abril deste ano.
Quando questionado pelo iBahia sobre a escolha desse caso, Gabriel desabafou:
“Foi muito bizarro esse caso. E nem todo mundo ficou sabendo, né?! Eu vi por notícias da internet. Eu não sei o quanto isso foi divulgado. Foi tão chocante que eu comentei com alguns amigos e alguns não sabiam. E quando eu fiz uma referência ao Moraes, eu lembrei dos Novos Baianos, isso veio na cabeça. E foi uma maneira de eu desabafar sobre aquilo. Que é também um problema atual. Mais do antes talvez, mais notório do que antes que é essa insensibilidade, até quando morre. “
“Incluir isso na letra é um chamado a reflexão sobre a nossa insensibilidade”, pontou.
Sobre a canção
‘Patriota Comunista’ é um trap, um subgênero do rap que se originou no sul dos EUA. Ela traz temáticas vivenciados pelos brasileiros nos últimos anos. O clipe mostra o cantor dentro de um caixão e um casal simulando o enterro dele. Além disso, imagens mostram políticos brindando sobre as lápides com leques de dinheiro nas mãos, campos de terra, integram a ideia de vida e morte.
Sobre esse assunto, o artista disse que “Antes de fechar a tampa do caixão, (precisamos) abrir os olhos. Ali tem um pouco desse simbolismo no clipe. A gente poder enxergar a vida, buscar um pouco de paz, antes do descanso eterno deveria ser nossa única certeza. Aliás, as pessoas estão muito cheias de certezas erradas. A nossa única certeza deveria ser a morte. Essa frase não entrou na letra, mas é um pouco do que acredito”, disse.
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Há também citações de pessoas importantes para o cantor no clipe como o pai de Gabriel – médico Miguel, que morreu com graves problemas respiratórios em abril de 2020 – e vítimas da covid-19, como o ator Paulo Gustavo e o amigo do artista, Eduardo Galvão. “Essa música foi bem especial, foi um desabafo bem importante pra mim também. Porque estamos diante de uma realidade absurda no mundo, mas acho que mais ainda no nosso país. Justamente por ter sido o único, se não me engano, a recusar vacinas e a ter uma postura negacionista e pessoas que se foram poderiam estar aqui como o Paulo, se não tivesse sido assim.”
O trap traz ainda Aldir Blanc, o menino Henry e uma citação de Fita Amarela de Noel Rosa, nos vocais de Udi Fagundes. De acordo com Gabriel, a canção é um chamado para reflexão.
“As pessoas se impressionam com as músicas que compus a partir de 1992 continuam com mensagens atuais. FDP, Pega ladrão, Até quando, Nunca serão, Chega, entre outras, compostas em décadas diferentes, podem ser cantadas hoje e se continuarmos assim daqui a dez anos pode ser ainda pior. Opressão, censura, descaso com a vida e o meio ambiente, racismo, preconceito e discriminação em geral são males que sempre combati nas minhas composições. Infelizmente, são tão recorrentes que absurdos chegam a ser aceitos com algo normal. Muitos pediram para eu fazer “Matei o presidente 3”. Mas o meu desabafo vai além. É uma crítica que inclui a reflexão sobre atitudes e posicionamentos de (des)governantes e (des)governados. Onde a nossa compaixão virou egoísmo, onde nossa solidariedade virou ódio, onde a gente está se perdendo?”, revelou.
A produção do videoclipe foi do beatmaker Dree e do irmão de Gabriel, Thiago Mocotó. A direção foi realizada por Fabio Masson e Victor Barão.
Censura
O cantor confirmou na coletiva de imprensa que sofreu intimidação e tentativas de censura da sua canção e do clipe. Na madrugada do lançamento, segundo Gabriel, ele achou que o lançamento nem iria acontecer diante das questões relacionadas as notificações do uso do cemitério como locação.
Segundo o cantor, uma pessoa de Uberlândia que se apresentava como “A venenosa” nas redes sociais levantou uma polêmica sobre o clipe da canção, afirmando ter sido um desrespeitoso. “A música fala do respeito à vida e da banalização da morte. Quem tem um parente sepultado lá ou em qualquer cemitério pode ter certeza que não vai encontrar nenhuma cena desagradável ou ofensiva”, explicou ele.
Confira o clipe na íntegra