Suspensão das cirurgias eletivas traz um alerta dos especialistas para as emergências urológicas. Saiba o que não pode esperar.

SAÚDE


Com o agravamento do cenário da pandemia no país, e com os números crescentes de infectados na Bahia, aumenta também a preocupação dos especialistas na seara das doenças urológicas. Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) revelou que cerca de 90% dos 800 urologistas entrevistados tiveram redução igual ou maior que 50% nas cirurgias eletivas, e 54,8% relataram diminuição de pelo menos 50% no número de cirurgias de emergência, devido à pandemia.

Esse panorama acendeu o sinal de alerta de que inúmeros pacientes com doenças urológicas (como cânceres, hiperplasia de próstata e incontinência urinária, dentre outras) tem adiado o tratamento pelo receio de contrair o novo coronavírus.

“Nós estamos vivendo a pior fase da segunda onda da pandemia em nosso estado, mais grave que a do ano passado, com uma ocupação maior de leitos de enfermaria e de UTI. As cirurgias eletivas nos hospitais privados foram totalmente suspensas, em alguns foram mantidas somente as oncológicas. Sabemos da necessidade do isolamento social para conter a disseminação do vírus, mas existem situações de urgência no trato urológico que não podem ser postergadas, e é preciso muito critério e responsabilidade na avaliação dessas situações”, explica o urologista Nilo Jorge Leão, coordenador do Núcleo de Uro-Oncologia da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia do Hospital Santo Antônio (OSID).

Segundo o urologista, é importante que o paciente observe atentamente os próprios sintomas e entre em contato imediato com seu médico, assim poderá identificar quais são os indícios de gravidade de algumas doenças que acometem a função urológica. “Cálculos renais obstruindo o ureter, causando dor, aumentam o risco de infecção renal e insuficiência renal. Pacientes que estão urinando sangue com coágulos ou com dificuldade para urinar também não devem deixar de procurar assistência. Outras situações clínicas não urológicas são preocupantes, como dor no peito, que pode configurar uma síndrome coronariana aguda, um infarto; e dores abdominais acompanhadas de febre podem representar algum tipo de emergência cirúrgica. Casos assim não devem ter sua avaliação e eventual tratamento, se necessário, postergados”.

Nilo Jorge exemplifica outras situações que não podem esperar e que são configuradas como emergência urológica. “A retenção urinária aguda faz com que a urina fique na bexiga, na maior parte das vezes, e causa grande dor ou desconforto ao paciente pela vontade de urinar. Se não tratada, pode evoluir com infecção, mau funcionamento da bexiga, perda de função dos rins e até para um choque”, explica.

Outra situação que requer atenção, segundo o especialista, é a infecção urinária aguda ou cistite, que apesar de ocorrer em qualquer faixa etária e em ambos os sexos, é muito mais frequente na mulher adulta. “A infecção urinária atinge basicamente a bexiga, muitas vezes pode causar bastante desconforto e até sangramento urinário, mas quando negligenciada pode evoluir até para uma infecção nos rins. Quando isso acontece instala-se um quadro bem mais grave. Geralmente é acompanhada de febre, calafrios e dor lombar, com ou sem os sintomas da cistite. É uma das grandes urgências urológicas, especialmente em pacientes imunossuprimidos, com cálculo urinário, diabetes, crianças, idosos, gestantes e pessoas debilitadas por outras causas”, explica o urologista.

Em se tratando de pacientes oncológicos, Nilo Jorge sinaliza a importância de se ter a avaliação de um médico de confiança, para ponderar as particularidades do paciente, pesando os riscos dos procedimentos neste momento versus o risco de atrasar o tratamento oncológico. “A maioria dos casos de câncer de próstata localizado, por exemplo, não tem urgência do tratamento inicial, sendo cirurgia ou radioterapia. Nos casos de risco intermediário, é considerado seguro atrasar o tratamento por até 3 meses. Tumores de alto risco podem requerer tratamento mais imediato, com cirurgia, radioterapia ou ainda com a indicação de tratamento hormonal e retardar o tratamento definitivo para depois da pandemia. Em alguns casos, dependendo da situação local e do hospital, é possível realizar cirurgia para câncer de próstata neste momento, mas deve-se pesar o risco de o paciente adquirir coronavírus durante a internação em relação ao benefício de não atrasar o tratamento”, finaliza Nilo Jorge.

adm

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