A pandemia trouxe transformações substanciais em todo o mundo e em diversos setores, porém a saúde tem sido um das áreas mais comprometidas. A rápida disseminação do coronavírus com a necessidade do distanciamento social tem levado muitos homens se descuidarem ainda mais da saúde – perfil de paciente que já tem o hábito de procurar assistência médica quando o problema se agrava. E quando se fala em câncer de próstata, o segundo tumor maligno que mais atinge os homens, a demora para iniciar o tratamento é um grande inimigo.
O diagnóstico precoce é fundamental para ampliar as chances de cura, podendo chegar a 90%, e também reduzir os efeitos colaterais. A prevenção é fundamental por se tratar de uma doença que acomete de 1 a cada 8 homens no Brasil, sendo um dos cânceres masculinos que mais mata no mundo, perdendo apenas para o câncer de pulmão, traqueia e brônquios. O alerta sobre o câncer de próstata se destaca com a chegada do Novembro Azul, mês de conscientização sobre a doença.
De acordo com coordenador do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), o urologista Nilo Jorge Leão, a princípio a pandemia não traria tantos prejuízos no retardo do diagnóstico do câncer de próstata, contudo existem alguns subtipos de câncer de próstata que são mais agressivos e que precisam de uma política de rastreio através de exames para serem descobertos no início e poderem ter um tratamento precoce, evitando que a doença se espalhe, dê metástase e o paciente tenha desfecho negativo, levando-o à morte. “A gente fica preocupado de haver um retardo nesse diagnóstico e um aumento da incidência de pessoas já diagnosticadas em fase avançada, porque hoje em dia cerca de 70% dos homens recebem um diagnóstico de câncer de próstata com a doença localizada. Ficamos com receio desse perfil de paciente mudar e de chegar muita gente já com a doença avançada por falta de acesso ao médico e pelo medo de contrair a covid-19”, revela o cirurgião urologista.
O câncer de próstata é uma doença silenciosa com aproximadamente 70 mil novos casos a cada ano, conforme o INCA. Quando se descobre precocemente há 90% de chance de cura. Mesmo que o tumor possa progredir para outros órgãos, a grande maioria, se desenvolve de maneira lenta e apresenta poucos sinais. O médico Dr. Leonardo Calazans, diretor de Urologia do IBCR, salienta a importância da prevenção. “É importante adotar hábitos mais saudáveis de vida, mantendo uma alimentação balanceada com menor ingestão menor de gordura, fazer uma atividade física ao menos 30 minutos por dia, manter o peso adequado à altura (já que estudos mostram maior risco de câncer de próstata em homens com peso corporal elevado), diminuir o consumo de álcool e não fumar, são algumas das recomendações. Uma informação importante no caso do câncer de próstata é a hereditariedade como fator relevante. Mas, o que temos de mais eficiente na luta contra essa doença é o diagnóstico precoce, que é realizado através do toque retal e o exame de PSA periódico, sendo indicado para negros e homens a partir de 45 anos com históricos da doença na família”, explica Dr. Leonardo.
Tratamento com cirurgia robótica
Antigamente quando o câncer de próstata era metastático a única opção de tratamento que existia era castração, que era remoção dos testículos cirúrgica ou química. Atualmente contamos com medicações mais modernas, que tem ajudado a prolongar a vida de pacientes com doença metastática avançada, sem prejudicar tanto a qualidade de vida. Do ponto de vista de tratamento cirúrgico, um maior avanço continua sendo da cirurgia robótica, que especificamente no norte e no nordeste do país tem tido um avanço progressivo. A técnica leva o paciente a ter uma recuperação acelerada e com menor existência de complicações pós-cirúrgicas.
Só os médicos do IBCR realizaram este ano mais de 100 cirurgias urológicas com o auxílio das duas plataformas disponíveis em Salvador, incluindo prostatectomias (retiradas da próstata) para o tratamento do câncer. “Neste ano no Brasil teve um aumento de 30% da realização de cirurgias robóticas em relação ao ano passado, o que reforça que mesmo na pandemia, a cirurgia robótica tem ganhado cada vez mais espaço. O método tem se tornando cada vez mais acessível aos pacientes, com valores reduzidos progressivamente apesar de não ser coberto integralmente pelos planos de saúde”, informa Dr. Nilo Jorge.