Pesquisa revela que brasileiros estão fazendo menos sexo na pandemia

REGIÃO METROPOLITANA SAÚDE

Uma pesquisa divulgada esta semana revelou que os brasileiros estão fazendo menos sexo desde o início da pandemia de coronavírus no País. Nos dados levantados no estudo Opiniões Covid-19, realizado pela empresa Perception, Engaje! Comunicação e Brazil Panels, 36% dos entrevistados dizem ter diminuído a prática de sexo durante esse período.

Segundo o diretor da Perception, Rodrigo Toni, a pesquisa não apurou especificamente as razões que levaram à diminuição da atividade sexual, mas uma das possíveis causas,especialmente no caso dos solteiros, é a falta de opção para sair já que os estabelecimentos comerciais foram fechados. “A gente não explorou especificamente a questão da atividade sexual, mas imaginou que isso ia acontecer, principalmente, porque as pessoas que são solteiras ou que não moram junto com o parceiro ou parceira estão tendo menos oportunidades de se verem já que estão ficando confinadas em casa. Então, quem não mora com o parceiro está tendo a atividade sexual restrita”.

A psicóloga especialista em sexualidade Sônia Eustáquia confirma que esse é um dos fatores. “No caso dos solteiros, o que temos agora é uma ausência da balada, que era um dos meios em que ele conseguia um parceiro ou um relacionamento. E mesmo aqueles que se utilizam de redes sociais e aplicativos para conseguir parceiros, existe hoje um medo da disseminação do coronavírus entre as pessoas. É o contato direto com o medo da finitude e da morte”, explica.

Isolados

É o caso do enfermeiro Rafael Lima Rodrigues de Carvalho, de 32 anos. Ele está solteiro e, confirmou a redução da atividade sexual depois que o coronavírus chegou ao Brasil. Desde o início da pandemia, ele nunca mais saiu ou se encontrou com ninguém. “Isso passa mesmo pelo distanciamento social porque a gente não está mais se encontrando com ninguém que nos coloque em risco e, em especial no meu caso, que trabalho na linha de frente e não vou colocar ninguém em risco”.

Ele trabalha em uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da capital mineira, que são unidades indicadas para que pessoas com suspeita de coronavírus procurem em caso de qualquer sintoma da doença. Mas, apesar de não sair com ninguém, ele está utilizando aplicativos de relacionamento. “Mesmo nos aplicativos, as pessoas não querem se encontrar. Eu entrei agora durante a quarentena porque a gente fica muito sozinho e é bom trocar uma ideia”, disse.

Também é a situação da dermomicropigmentadora Juliana Ribeiro, de 43 anos. “Estou nas estatísticas de quem diminuiu a atividade sexual porque eu tinha vários contatos, mas nenhum que vingou nessa quarentena”, conta.

Ela conta que, por conta do isolamento social, teve a rotina completamente alterada. Ela se dividia entre os cursos de estética e micropigmentação que ministrava pelo país e com uma agitada vida social à noite. Precisou adaptar os cursos para a modalidade online. Já a vida noturna acabou. “Eu  sou solteira e saía de segunda a domingo sou solteira, tinha uma rotina de sair muito, de ir em balada o tempo inteiro, e ficar em casa é uma tortura”. Mas, apesar disso, ela não aderiu aos aplicativos. “Não uso porque não confio em encontrar uma pessoa que conheci por aplicativo”.

Comprometidos também

Mas, segundo a sexóloga, não foram só os solteiros que tiveram redução na atividade sexual. Casais de namorados que não vivem juntos podem ter um pouco de dificuldade para se encontrarem durante a quarentena. Já a rotina dos casais que estão em home office e com crianças sem escola e/ou com aulas virtuais também pode estar afetando a vida sexual. “Primeiro que, em muitos casos, há um desgaste nas relações pessoais e, consequentemente isso afeta a relação sexual. Há um excesso de tarefas com os filhos, cuidados com a casa, e isso acaba sobrecarregando o casal, principalmente a mulher. Isso faz com que eles acabem se atritando mais e desentendendo”.

Ela também aponta a falta de opções para sair de casa e a rotina da quarentena como fatores que contribuem para a diminuição do tesão entre os casados. “Os casais não têm mais a possibilidade de tirar um tempo para eles, saírem de casa. E também, o fato de estarem só em casa, leva à uma condição de superexposição do corpo e de falta de cuidado, que pode levar a uma perda do encantamento e daquele olhar de tesão para o outro. E isso vem a atrapalhar consideravelmente as relações”.

Além dos fatores apontados pela especialista, ela aponta ainda a questão da incerteza e dos medos trazidos pela pandemia também como algo que não pode ser ignorado e que afeta os relacionamentos. Segundo ela, há um nível de estresse e ansiedade crescente, porém, as preocupações com a saúde pública, a economia e a própria rotina do dia-a-dia são tão grandes e urgentes que esses casos ainda não chegaram aos consultórios. “Ainda é precoce para avaliarmos o efeito da pandemia sobre as pessoas, mas certamente todos serão de uma forma ou outro impactados porque é uma situação que envolve morte e vida”.

O estudo foi realizado em todas as regiões do Brasil e consultou homens e mulheres com mais de 18 anos, das classes A, B, C e D, com margem de erro de até 4%. O objetivo era saber a opinião dos brasileiros sobre diversas ações cotidianas em meio ao novo cenário vivido com a pandemia.

Diminuição nos cuidados pessoais e atividade física  

A pesquisa Opiniões Covid-19 também identificou queda nos cuidados pessoais e na prática de atividade física. O levantamento apontou que 42% dos entrevistados deixaram os cuidados pessoais também em segundo plano e 45% abandonou os exercícios.

Uma das explicações, segundo Toni, é a redução da oferta de serviços, especialmente no caso dos públicos das classes econômicas A e B. “Houve uma diminuição drástica na oferta desses serviços, como salões de beleza, manicure, e esse certamente é um dos fatores para explicar essa diminuição nos cuidados pessoais”.

Mas, ele disse que outro fator observado na pesquisa qualitativa é que há menos estímulo para se cuidar. “As pessoas não se sentem estimuladas para fazerem isso, não tem incentivo porque elas não estão saindo de casa, não estão se expondo a outras pessoas, não estão indo ao ambiente de trabalho, não estão indo fazer compras. Então, elas não se sentem tão motivadas a cuidar da aparência”.

Já em relação à atividade física, o diretor da Perception aponta basicamente as mesmas razões para redução. “Também é multifatorial, então tem sim o fechamento das academias, mas a gente acredita, que não só o desânimo, mas o turbilhão de coisas que estão acontecendo na vida das pessoas, têm afetado a atividade física e, na verdade, todas essas atividades sobre as quais a gente falou antes: cuidados pessoais, atividade sexual”.

Ainda segundo ele, o fato de as pessoas estarem em casa confinadas tem deixado muitas delas com a rotina pesada e em um nível de estresse elevado que acaba afetando as demais áreas. “A gente tem 50% da nossa amostra trabalhando em casa, então pessoas que costumavam trabalhar fora de casa estão em casa fazendo sua atividade profissional no mesmo ambiente e no mesmo espaço elas estão lidando com filhos, com cônjuges, com as tarefas domésticas. Então, não tem mais uma fronteira espacial e temporal que separe o trabalho das demais atividades. O que a gente percebe é que as pessoas estão trabalhando mais por causa disso e estão sobrecarregadas”, aponta.

Na avaliação do psicólogo Flávio Torrecillas, a mudança na rotina das pessoas por conta da pandemia é uma das principais causas do abandono dos cuidados e também da prática de atividade física. “A rotina é fundamental para manter a atividade física e autocuidado porque isso gera prazer, satisfação e alimenta auto-estima”.

Ele também associa o fato de que o Brasil é um dos países com mais casos diagnosticados de transtornos de ansiedade e depressão e também de consumo de medicamentos calmantes. “As pessoas precisam de rotina e, de repente, você rouba das pessoas essa rotina. Então você pega pessoas ansiosas e depressivas que não tem para onde ir, qual prazer elas vão ter para construir esse autocuidado? Elas perdem a motivação de cuidarem de si mesmas” avalia.

adm

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